Muitas vezes guardamos tanta coisa só para nós - opiniões, sentimentos, ideias, estados de espírito, reflexões, pequenos textos que escrevemos e ficaram arrumados numa gaveta fechada...


Eu decidi abrir essas gavetas, e o resultado é este blog!




How many times we keep things for our own – opinions, feelings, ideias, moods, reflections, some little texts we wrote and put on a closed drawer…

Now I have decided to open those drawers, and this is the result!



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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Aborto - Uma opção válida?



Juntamente com outras tantas mulheres, ela aguardava sentada, numa cadeira, em pleno corredor, a sua vez de ser chamada.
Aquela espera parecia-lhe uma eternidade e, por momentos, teve vontade de desistir, de sair dali e nunca mais voltar.
Era um ambiente pesado, de semblantes carregados. Ninguém falava com ninguém. Quanto tempo mais ficariam ali?
Nunca ela imaginara que algum dia se encontraria numa situação daquelas, mas agora era uma realidade, e só ela poderia alterar o desfecho desta história.
Tinha uma filha, com cerca de três anos, fruto de um relacionamento que culminou em casamento e cuja vinda, muito embora não tivesse sido planeada mas também não prevenida, trouxe muita felicidade aos pais!
Errar é humano, e erros qualquer ser humano comete. Este tinha sido um desses “erros”, se assim se pode chamar, mas que era muito bem vindo – afinal, era só o antecipar do futuro que ambos desejavam.
Mas agora era diferente. Tinham estado separados durante três meses, o divórcio esteve prestes a ser assinado. Contudo, o que quer que fosse que ainda sentiam um pelo outro falou mais alto, e tentaram uma nova oportunidade.
Só que, numa altura em que predominava a instabilidade emocional e a instabilidade financeira, a última coisa que precisavam era de cometer novamente o mesmo erro! No entanto, foi o que fizeram! Como ela tinha sido burra – sim, porque só pode ser essa a explicação para tal loucura. Estava grávida, e não tinha vontade nenhuma de ser mãe, de trazer outra criança ao mundo para passar o mesmo que a filha tinha passado. Além disso, ela não tinha condições. Nem tão pouco o marido lhas podia dar.
Não foi necessário pensar muito para pôr em cima da mesa a opção do aborto que, por ironia do destino, tinha sido legalizado nesse mesmo ano! Na verdade, apesar de nunca ter pensado alguma vez na vida fazer um, a verdade é que sempre tinha sido a favor do aborto e da sua legalização.
Contra a vontade do pai do bebé, mas apoiada pelos seus pais, e decidida a resolver o quanto antes a questão, até porque não tinha muito tempo até ao limite de semanas permitido, avançou com o processo.
Primeiro, uma consulta com a médica de família, que a encaminhou para um hospital público que, por sua vez, a encaminhou para uma clínica privada. Fez por sua conta uma ecografia, que lhe seria pedida mais tarde. E aguardou que lhe marcassem o dia para comparecer na clínica.
Só que não foi exactamente como ela tinha pensado. A primeira informação que lhe deram, quase fê-la dar meia volta e esquecer o motivo que a tinha levado ali. Não se faziam abortos com comprimidos, apenas por cirurgia, que consistia em “aspirar” o bebé, numa fracção de segundos, sem dor e sempre assistida por profissionais. E ela nunca tinha pensado nessa hipótese. Sempre teve em mente que lhe iam dar uns comprimidos e que o resto aconteceria em casa. Uma cirurgia…isso não era de todo o que tinha imaginado. Assustava-a.
Mas o seu pai estava com ela, e nem mesmo quando, por acaso, ouviu outra mulher já de saída comentar que sentia um vazio muito grande, e observar o estado físico e psicológico em que se encontrava, ele a deixou desistir.
E, assim, estava ela agora sentada com outras mulheres em situações similares, cada uma com o seu motivo, umas mais novas, outras mais velhas, mas todas com um objectivo comum.
Era, de facto, surpreendente a quantidade de mulheres que naquelas horas ali compareceram.
Chamadas por grupos, tinham que passar por diversas fases – uma primeira conversa com o médico, análises, ecografia, consulta de psicologia, e voltar novamente ao médico, que marcaria então o dia, a todas as que mantivessem a sua decisão.
Quando finalmente saiu da clínica, respirou de alívio – alívio por sair daquele ambiente onde esteve fechada tantas horas, e porque estava cada vez mais perto do final.
Dia 14 de Novembro compareceu novamente na clínica acompanhada, desta vez, pelo marido que, mesmo condenando aquela decisão e, provavelmente, contrariado, acedeu a levá-la e trazê-la de volta de carro, em vez de ela ir de transportes públicos.
Novamente à espera, chamaram-na para o vestiário com mais duas ou três mulheres. Já preparadas, levaram-nas para o bloco operatório onde lhes foi aplicada a anestesia. Ela tinha optado pela anestesia geral – assim não daria por nada. E quando acordasse, já estava!
E assim foi. Uns minutos depois, acordou já numa outra sala, de recobro, como se nada tivesse acontecido. Mais um tempo em observação, uma nova consulta de psicologia, um saquinho com antibiótico e anti-inflamatório, e tinha acabado o pesadelo.
Sim, foi essa a sensação que ela teve – novamente, alívio! Como se lhe tivessem tirado um peso das costas. Como se tivesse, desta forma, remediado o erro que tinha cometido.
Era a única solução possível naquela altura, disso não tinha a menor dúvida. Tinha feito o melhor para todos.
Não sei como se sentem as mulheres depois de abortarem – acredito que muitas entrem em depressão, que fiquem tristes, que se sintam culpadas, arrependidas…
Mas ela não – nunca se arrependeu, nunca se sentiu culpada, nunca se deixou abater, e seguiu a sua vida!
Hoje, engravidar não está fora dos seus planos, mas só se a sua vida e as condições o permitirem, porque errar uma terceira vez seria pura burrice, e aborto é uma opção que não se colocaria novamente.      

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Tráfico Humano - ao virar da esquina






Duas jovens adolescentes viajam, sozinhas, para Paris. À chegada, como muitas outras pessoas, tentam apanhar um táxi que as leve ao destino. Enquanto esperam, um rapaz simpático mete conversa com elas. Apresentam-se. Em ambiente descontraído, uma delas pede-lhe que tire uma foto às duas, entregando-lhe para isso o telemóvel.
Aparentemente, também ele tinha viajado até Paris e, tal como elas, aguardava a sua vez na fila para o táxi. Por isso mesmo, perguntou-lhes se não queriam dividir a despesa do mesmo, ficando assim mais barato para todos. E assim fizeram. Chegadas à moradia onde iriam ficar instaladas, despediram-se do rapaz, que entretanto já tinha conhecimento que ambas estariam sozinhas. Alguns instantes depois, as duas são levadas por 3 ou 4 homens que ali entraram. Na verdade, o tal rapaz, aparentemente simpático e inofensivo, pertencia a uma rede de tráfico de mulheres, actuando como intermediário, se assim se pode chamar.
O destino que as esperava? O pior que se possa imaginar – drogadas, as que não morriam de overdose, eram obrigadas a prostituir-se, em bordéis ou nas ruas, sempre controladas e vigiadas.
Outras, na opinião dos traficantes, mais valiosas, eram levadas para leilões, vendidas a quem oferecesse o valor mais alto. Representantes de magnatas compravam, sob a sua ordem, o que para eles nada mais significava que um mero objecto.
Um cenário deprimente, chocante e repugnante que, infelizmente, retrata uma realidade que nos pode apanhar a qualquer um, nas suas malhas. Ali mesmo, ao virar da esquina!
A razão para que isto aconteça? Dinheiro! Como eles diziam, não era nada “pessoal”, apenas ganhavam dinheiro!
O tráfico humano, é a terceira actividade criminosa mais rentável do mundo, logo depois das drogas ilícitas e do tráfico de armas. Não escolhe raça, idade ou classe social. E nem mesmo sexo! Embora a grande maioria das vítimas sejam mulheres e, entre essas, adolescentes, também estão incluídos no pacote homens e crianças, que são traficados para os mais diversos fins.
A prostituição, como já atrás referi, é a forma mais corrente do tráfico humano. Iludidas por falsas promessas de bons empregos, uma vida melhor, ou financiamento de estudos, são alvos fáceis de cair em mãos criminosas, que não pedem consentimento às vítimas para as traficarem, retirando-lhes direitos humanos básicos como a liberdade – de movimento, de escolha, de controlo sobre si próprio e sobre a sua vida. E enquanto os criminosos lucram, estas mulheres sofrem todo o tipo de violência física e psicológica.
Mas também pode acontecer a quem pura e simplesmente, como estas duas adolescentes, gosta de viajar.
O recrutamento é o primeiro passo, o primeiro elo da cadeia do tráfico humano, através do qual os traficantes encontram as vítimas, enganando-as ou forçando-as a entrar num mundo onde a escravatura, que julgávamos ter acabado há muito, é uma constante em pleno século XXI. São os recrutadores, aparentemente pessoas normais, que fazem o primeiro contacto com a vítima. Qualquer um pode ser recrutador, até mesmo aquela pessoa em quem, à partida, tínhamos total confiança. Bastante criativos, servem-se muitas vezes de anúncios em jornais ou na Internet, agências ou empresas falsas, e até mesmo através de conhecimentos privados.
O próximo passo é entregar as vítimas aos verdadeiros criminosos, que as forçam aos mais variados actos, sob ameaça constante, sob violência, sob chantagem. Afinal, elas passam a ser responsáveis pelo pagamento do dinheiro que o traficante pagou por elas.
Mas não é só para a prostituição ou pornografia que são traficados estes seres humanos.
No caso dos homens, por exemplo, é frequente estes serem levados para trabalhos forçados, como por exemplo na agricultura, na indústria ou na construção civil.
Já as crianças, são utilizadas muitas vezes para actividades criminosas como a mendicidade, tráfico ou venda de droga, passagem de dinheiro falso ou pornografia infantil, bem como para adopção ilegal.
Não podemos ignorar esta realidade, este fenómeno que pode estar tão perto de nós e nos afectar mais do que julgamos.
O que é certo é que não existem receitas infalíveis para não cair nesta teia, existem medidas de sensibilização, de prevenção, que embora úteis, não nos dão a garantia de que nunca iremos ser apanhados.
Também é certo que não podemos viver com medo, desconfiar de tudo e de todos, e deixar de fazer determinadas coisas porque há uma possibilidade remota de não correr bem.
Mas convém lembrar e ter presente que, por vezes, as possibilidades remotas podem ter avançado a grande velocidade na nossa direcção, e estar mais próximas do que pensamos, até mesmo ao virar daquela esquina!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Não acontece só aos outros...

Cada vez que lia uma notícia sobre violência doméstica, o meu pensamento era sempre o mesmo: "Como é que uma pessoa se sujeita a isto?", "Porque é que não faz nada", ou ainda "Eu nunca iria permitir uma situação destas".
Como o nosso pensamento muda, quando estamos no meio da situação, como protagonista, e não apenas do lado de fora como mero espectador!
Desengane-se quem pensa que este é um problema típico de pessoas sem estudos e de classe baixa, que afecta apenas as mulheres. Cada vez mais, percebemos que é um crime que não escolhe sexo, classe social ou formação.
E pode acontecer mesmo aqueles que um dia disseram que nunca iriam admitir que tal lhes acontecesse.
Numa situação dessas, o que fazer? Apresentar queixa, afastar-se do agressor e pôr logo ali um ponto final ao nosso papel de vítima.
Mas, se é assim tão simples, porque é que muitas vezes não agimos para evitar que se repita? A explicação é simples - gostamos mais de quem nos agride do que de nós próprios!
Quando assim é, ficamos cegos, surdos e mudos! Inventamos mil e uma desculpas para nos convencer, a nós e aos outros, que foi uma coisa que aconteceu uma vez e não voltará a acontecer.
Perdoamos quem nos agride porque foi uma questão de descontrolo, porque não havia intenção de o fazer.
Pior, chegamos ao ponto de muitas vezes nos culpabilizarmos pela agressão de que fomos vítimas, como se o outro tivesse alguma razão para cometer tal acto!
Outras vezes, não agimos por medo - medo de mais violência, medo de ver concretizadas as ameaças, medo do que nos possa acontecer.
Afinal, sabemos bem como funciona a justiça, e o que acontece aos criminosos e agressores quando são acusados pelas vítimas. Quantas vezes são detidos e saem logo em seguida? Quantas vezes se tentam vingar por terem sido denunciados? Quantas vezes o pior não acontece, sem que ninguém faça nada, apesar das várias acusações já apresentadas nos serviços competentes?
A verdade é que as vítimas não conseguem confiar em ninguém, não acreditam que as consigam proteger do que mais receiam.
E algumas vezes também, por medo de serem julgadas. Por medo do que possam vir a dizer sobre elas, por vergonha...
Quando assim é, sujeitam-se e acomodam-se sem reclamar. É o pior que podemos fazer - quem faz uma vez faz duas, e quem faz duas faz três. Os agressores acham que têm esse direito, porque afinal nós permitimos que eles pensassem assim, e não param.
Em qualquer caso de violência doméstica, não falamos apenas de agressões físicas. Há agressões psicológicas que, muitas vezes, nos marcam mais que meia dúzia de nódoas negras.
Não condeno as vítimas que não conseguem sair desse pesadelo. Por outro lado, admiro todas aquelas que têm a coragem de agir e reagir.
Acima de tudo, são um exemplo de quem soube e conseguiu dar a volta e lutar por si próprio, pela sua dignidade, pela sua saúde física e mental, pela sua vida. São um exemplo de quem venceu em vez de se deixar vencer! E nada é mais compensador do que essa sensação!

It does NOT only happen to the others ...

Each time I read a story about domestic violence, my thought was always the same: "How does a person subject to this?", "Why does that person do nothing", or "I would never allow such a situation ".
But  our thinking changes when we are in the middle of the situation, as the protagonist, and not just on the outside as a spectator!
Disabuse those who think that this is a typical problem of uneducated and lower class people, which affects only women. Increasingly, we realize that is a crime that does not choose gender, social class or training.
And it can happen even to those who once said they would never admit it to happen.
In such a situation, what to do? Complaint, to depart from the perpetrator right there and put an end to our role as victim.
But if it is so simple, why do not often act to avoid a repeat? The explanation is simple – we love those who hurt us more than we love ourselves!
When this is so, we are blind, deaf and dumb! We invent a thousand excuses to convince ourselves and the others, that was something that happened once and will never happen again.
We forgive those who hurt us because it was a matter of lack of control, because there was no intention to do so.
Worse, we got to the point that we often blame ourselves for the attack that we were victims, as if the other had some reason to commit such an act!
Sometimes you do not act for fear - fear of further violence, fear of seeing realized the threats, fear of what might happen.
After all, we know very well how the justice works, and what happens to criminals and offenders when they are accused by victims. How often are arrested and then immediately leave? How many times they try to take revenge for having been exposed? How often the worst does not happen without anyone doing anything, despite several accusations already made by the competent services?
The truth is that the victims cannot trust anyone, they don’t believe that someone is able to protect them from fear.
And also sometimes, for fear of being judged. For fear of what might be said about them, for shame ...
When this is so, they subject to and accommodate themselves without complaint. It's the worst thing we can do - who did once will do it again, and again and again. Abusers believe they have this right because, after all, we let them think so, and it doesn’t stop.
In any case of domestic violence are not only speaking of physical aggression.
There are psychological abuse that often mark in more than half a dozen bruises.
I do not condemn the victims who can not get out of this nightmare. On the other hand, I admire all those who have the courage to act and react.
Above all, they are an example of those who knew and managed to turn around and fight for themselves, for their dignity, for their physical and mental health, their life. They are an example of who won rather than succumb! And nothing is more rewarding than that feeling! 

sábado, 29 de outubro de 2011

Já a formiga tem catarro!



Hoje em dia é tudo "muito à frente"!
Ou terei sido eu a ficar para trás?
É que há determinadas modernices que ainda me custam a digerir e aceitar.
No Domingo, depois de a minha filha se despir para tomar banho, deparei-me com o seu último retoque de beleza - as unhas dos pés pintadas!
Não é que eu não goste de ver mulheres de unhas pintadas, até penso que lhes fica muito bem.
Mas uma coisa é preocuparmo-nos com essas vaidades na adolescência. Nessa altura até eu aderi à moda das unhas pintadas de preto, e dos tradicionais produtos de maquilhagem - batom, rímel, sombras e blush.
O que me surpreende, é que cada vez mais, as crianças queiram parecer mulheres. E cada vez mais cedo!
Aos 5 anos, era ver a minha filha agarrada aos kits de pinturas que se vêem à venda para crianças. Para o Jardim de Infância, já levava as unhas das mãos pintadas de rosa forte ou vermelho, porque dizia ela "as cores clarinhas não se notam tanto". Nos lábios, passava o batom não sei quantas vezes por dia, e perguntava sempre "Oh mãe, vê lá se ainda tenho batom!".
Ora, ela é ainda e apenas uma criança. Não deveria ela preocupar-se com outras coisas típicas dessa fase da nossa vida?
É certo que ela é bonita, e está a desenvolver-se bem depressa. Mais uns aninhos e já está uma mulher. Uma mulher que certamente não irá precisar de recorrer a truques de beleza, embora na medida certa sejam bem vindos.
Mas isto das modernices não se fica por aqui - poucos dias depois de ter iniciado o ano lectivo, chegou a casa e deu-me um papel para a mão. Adivinhem o que era - nada mais nada menos que o número de telemóvel da mãe do "namorado", para eu ligar a combinar o encontro do casalinho na semana seguinte! "Namorado" esse que anda com duas ou três ao mesmo tempo!
Embora, por um lado, não dê grande importância a estes episódios, por outro não posso deixar de ficar preocupada.
Há uma distância cada vez mais ténue entre o mundo infantil e o adulto - as crianças devem brincar, pular, saltar.
Em vez disso, vêem-se crianças que parecem querer saltar essa etapa fundamental da vida delas, e tornar-se precocemente adultas, imitando os pais, os seus ídolos, a moda...da roupa ao calçado, do penteado à maquilhagem. Até mesmo os seus comportamentos.
Só há um pequenino pormenor, é que se tornam adultas por fora mas por dentro dentro continuam a ser crianças - ou seja, são adultas para o que lhes interessa e convém, mas quando chega o momento de ter atitudes em conformidade, aí voltam à infância.
Então que o sejam em todos os sentidos e que o aproveitem, porque há-de chegar o tempo em que irão desejar voltar atrás, e não podem mais!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Barrigas de Aluguer


Quando, há uns anos atrás, passou na televisão a telenovela brasileira “Barriga de Aluguer”, gerando na altura uma grande polémica, estávamos longe de imaginar que essa prática saltaria da ficção para a realidade…E que se transformaria numa opção cada vez mais válida, para todos aqueles que desejam ter filhos.
No mundo dos famosos, são vários os exemplos de actores, cantores ou jogadores de futebol, entre outros, que recorreram a este método. Desde Michael Jackson, Elton John, Ricky Martin, Sara Jessica Parker, até ao português Cristiano Ronaldo, muitos foram os que se valeram dos serviços de mulheres que decidiram alugar a sua barriga.
O motivo principal é, na maioria dos casos, a infertilidade. Mas casais homossexuais, bem como mulheres e homens solteiros, que desejam experimentar a maternidade sem a obrigatoriedade de uma relação amorosa, também se incluem na lista. Por outro lado, quero acreditar que, apesar de algumas pessoas serem bastante excêntricas e terem as suas manias, ainda não há ninguém a escolher uma barriga de aluguer por motivos estéticos!
Em Portugal, ser barriga de aluguer a título oneroso, é um crime punido, desde 2006, com pena de prisão. E aplica-se a todos os envolvidos na celebração do contrato, desde os intervenientes principais a promotores ou angariadores. Caso não envolva dinheiro, é apenas considerado nulo o contrato.
Contudo, isso não é impedimento para muitas mulheres, que vêem nestes contratos milionários, uma possibilidade de terem uma vida melhor, de escapar à crise e terem o seu futuro garantido, de forma rápida. Os preços podem ir dos 30 aos 100 mil euros. E em termos psicológicos, embora possa haver casos de mulheres que venham a sofrer problemas de depressão, existem também mulheres que encaram esta função com naturalidade, mantendo a distância necessária que a impeça de se envolver emocionalmente, como uma espécie de preparação mental.
É compreensível o desejo de ser mãe ou pai. É compreensível que se deseje um filho do nosso sangue, e daí, a não se optar pela adopção. Também não condeno quem, psicologicamente preparado e de forma legal, nos países onde é permitido, se submeta a hospedeira gestacional.
Mas como mãe (e provavelmente todas as mães dirão o mesmo), ter um ser vivo a crescer dentro de nós é das melhores sensações do mundo – há uma comunicação só nossa, estamos ligadas àquele pequeno ser desde o primeiro minuto. E isso, para mim, torna impensável, nove meses depois, uma mãe entregar o seu filho seja a quem for, como se nunca tivesse existido!